"Ariadne" ganha montagem no Municipal

Fonte: Folha De São Paulo

A mais engenhosa ópera do alemão Richard Strauss, nunca encenada em São Paulo, estréia amanhã

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

O compositor alemão Richard Strauss (1864-1949) escreveu 15 óperas, e nenhuma é tão engenhosa quanto "Ariadne em Naxos". É uma ópera dentro de outra ópera. Além de empregar duas linguagens musicais bastante diferenciadas, ele trabalhou com o dramaturgo e libretista austríaco Hugo von Hofmannsthal (1874-1929), com linguagem simples, de situações dramáticas de imensa grandeza e intensidade. Pois "Ariadne", jamais montada em São Paulo, estréia amanhã no Theatro Municipal. Serão apenas quatro récitas, com ingressos de R$ 10 a R$ 40. A direção musical será de José Maria Florêncio, e a cênica, de André Heller-Lopes. Entre os 17 cantores em cena, Eiko Senda (soprano) fará o papel-título; Andréa Ferreira (soprano) cantará Zerbinetta; Denise de Freiras (mezzo), o Compositor; e Marcello Vannucci (tenor) será Baco. Há grandes nomes mesmo nos papéis menores, como Gabriela Pace (soprano), Adriana Clis (mezzo) e Edna D'Oliveira (soprano) como Naiade, Driade e Eco. "Ariadne" foi concebida como uma pequena peça a ser interpretada com a adaptação que Hofmannsthal fez de "O Burguês Gentil-Homem", de Molière. Mas em 1913, ano seguinte à estréia, o dramaturgo propôs a Strauss a composição de um prólogo que explicaria o enredo aparentemente confuso -mistura de tragédia clássica com personagens próprios à commedia dell'arte. A nova versão estreou em 1916, ambientada na Viena do século 19, e não mais na Paris do século 17.

Dois espetáculos em um
O enredo é curiosíssimo. Um rico vienense contrata dois grupos de músicos para o entretenimento de seus convidados. Pouco antes de servir o jantar, no entanto, os elencos são informados de que deverão fundir os dois espetáculos num só. É assim que Ariadne, abandonada por Teseu na ilha de Naxos, lamentando-se por seu trágico destino, passa a ser consolada por Zerbinetta, que procura convencê-la a encontrar um novo amante. A mistura dos dois planos prossegue de modo magistral, até que a deprimida Ariadne acredita na chegada do mensageiro da morte, que na verdade é um Baco disposto a consolar a heroína com prazeres. O diretor André Heller, que faz sua terceira ópera no Municipal, havia pensado em dirigir "Ariadne" em 2005, num projeto que não se concretizou. Na preparação do espetáculo, ele encontrou uma carta de Hofmannsthal ao compositor, em que afirma que "os seres humanos só se compreendem na incompreensão", paradoxo que virou a chave da encenação. Os personagens Ariadne e Zerbinetta, duas faces possíveis de uma síntese chamada mulher, em definitivo não se entendem. Mas é por isso mesmo que elas funcionam muito bem no mesmo espaço teatral. Heller diz propor a leitura da ópera de 1916 pelo espetáculo teatral de 1912 que possibilitou seu desdobramento: "Há nisso tudo uma teatralidade forte". Na primeira parte, quando as duas "troupes" chegam à festa do mecenas vienense, o público não assiste apenas à confusão criada pela ordem de fusão das duas peças. Ele também tem acesso visual aos bastidores do teatro, com os técnicos que movimentam cenários, num recurso que põe em evidência aquilo que o público nunca tem a ocasião de enxergar.

|Serviço: 

ARIADNE EM NAXOS
Amanhã, às 17h, e nos dias 19, 21 e 23, às 20h30
Theatro Municipal (pça. Ramos de Azevedo, s/nº, SP, tel. 0/ xx/ 11/3222-8698)
Classificação indicativa: não recomendado para menores de 5 anos 
De R$ 10 a R$ 40