Conpresp decidirá tombamento de City Lapa

Fonte: Folha De São Paulo

Resolução proíbe mudanças no traçado das ruas e na arborização, mas não veta demolição ou ampliação de imóveis

Projetado nos anos 1920 por ingleses, bairro da zona oeste de São Paulo tem ruas largas e é um dos últimos redutos livres de edifícios

JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DA REPORTAGEM LOCAL

CINTHIA RODRIGUES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O Conpresp, órgão do patrimônio histórico de São Paulo, deve votar na próxima semana o tombamento do City Lapa (Alto da Lapa e Bela Aliança, na zona oeste), bairro-jardim de ruas largas e sinuosas concebido nos anos 1920 por ingleses como um contraponto à área industrial da vizinha Barra Funda, ao longo do rio Tietê.
O tombamento não "congela" os imóveis e seus entornos, como ocorre com outros marcos históricos de São Paulo, mas preserva as características originais do bairro, um dos últimos redutos livres de grandes edifícios da metrópole.
A resolução proíbe mudanças no traçado das ruas e na arborização, mas não veta que imóveis sejam demolidos e ampliados, desde que mantenham altura máxima de 9 m e recuos em relação à rua e aos muros.
O processo de tombamento foi iniciado em 1992 pelo Conpresp, mas jamais chegou a ser votado. Outro pedido começou a tramitar no Condephaat (conselho de patrimônio do Estado de São Paulo) em 1998.
Nos últimos meses, uma série de intervenções anunciadas pelo governo do Estado e pela prefeitura na zona oeste acenderam o sinal vermelho para os moradores de que seria necessário retomar o processo.
A Artesp (agência reguladora de transportes do Estado) pretendia que fosse construída no bairro uma alça do Complexo Anhangüera, hoje em obras, que vai criar novos acessos entre a marginal Tietê e a rodovia, que liga São Paulo ao interior.
O projeto só foi alterado depois que o Ministério Público interveio, a pedido da Assampalba (que reúne moradores do Alto da Lapa e da Bela Aliança).
Outros plano da prefeitura, a operação urbana Vila Leopoldina-Jaguaré, prevê levar às vizinhanças do City Lapa mais 180 mil moradores -hoje, essa região da zona oeste já tem sido tomada por grandes edifícios.
Na semana passada, a subprefeita da Lapa, Luiza Nagib Eluf, que mora no local e já foi presidente da Assampalba por cinco anos, foi ao Conpresp pedir que o caso seja votado logo.
Segundo ela, há um consenso entre os moradores. "Em muitos lugares as pessoas não querem tombar para vender depois e para especular. Ali todo mundo quer", afirma. Há, de acordo com a subprefeita, uma pressão imobiliária que traz riscos à área. "Os avanços imobiliários são predatórios, e a gente tem de fazer um esforço para preservar alguma coisa."
O presidente do Conpresp, José Eduardo de Assis Lefèvre, diz que, a não ser que haja percalços, o processo deve ser finalizado terça-feira.
Para convencer os conselheiros do Conpresp, a ONG juntou pareceres de dois pesos pesados em urbanismo, o arquiteto Cândido Malta Campos Filho e o geógrafo Aziz Ab'Saber. Nos documentos, eles discorrem sobre a importância do City Lapa como concepção urbana e ainda para o equilíbrio térmico, já que construções baixas permitem circulação de ar, interrompida por edifícios.
"Havia uma certa confusão entre moradores, de que não poderia reformar, ampliar, mas agora estão mais informados", diz o presidente da Assampalba, Roberto Rolnik Cardoso.