Ciclo analisa papel da palavra no teatro atual

Fonte: Folha De São Paulo

Reinaldo Montero abre série de debates que vai reunir diretores e autores até setembro "A palavra é apenas um dos recursos cênicos", diz escritor cubano; diretores Antonio Araújo e Rubens Rusche também participam

AUDREY FURLANETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando recebeu a companhia Os Satyros em Cuba, há pouco mais de um mês, Reinaldo Montero dizia não acreditar em "cena contemporânea" no teatro. Para explicar, citava o exemplo do projeto "Prêt-à-Porter", de Antunes Filho. "Não há nada de novo naquilo.
É o que há de mais antigo no teatro. Mas é o que se vê agora, perfeitamente atual", disse à Folha, em Cuba.
Agora, ele deixou sua Havana para vir a São Paulo a fim de abrir uma série de palestras sobre o texto no teatro contemporâneo. O evento, que começa amanhã com Montero, segue até o dia 3 de setembro, toda quarta-feira, às 21h, com debates no Espaço dos Satyros 1.
O autor cubano, que teve seu texto "Liz", vencedor do prêmio espanhol Fray Luis de León, montado pelos Satyros, diz que, embora seja um dramaturgo, "não se pode ser tão vaidoso". "A palavra é apenas um dos recursos cênicos, nada mais", avalia.
Em seguida, o escritor quase nega o tema de sua palestra ao dizer que "se trata de um falso problema": "Como em determinados momentos se privilegiou o gesto e o movimento, em outras vezes isso se inverteu e a palavra foi privilegiada. Agora, nós chegamos a um momento em que isso se resolveu de alguma maneira".

Língua periférica Passado o debate sobre o "falso problema", Montero falará sobre a produção do teatro cubano, que, segundo ele, "tem provado uma saúde extraordinária" -apesar de o reconhecimento não ser tão extraordinário, como ele próprio conclui.
"Os cubanos podem escrever uma dramaturgia de muita importância, pelo menos dentro da língua castelhana, que, como o português, é uma língua periférica", afirma o autor, de livros como "As Afinidades".
"O que eu quero dizer é que, se Nelson Rodrigues tivesse escrito em francês, teria sido mais conhecido no mundo todo. Como escreve em português, para o mundo, ele pode até ser um perfeito ignorado."
Além de Montero, estão na programação do ciclo de palestras semanais o pesquisador e autor de "O Parto de Godot", Luiz Fernando Ramos (dia 13); o diretor do Teatro da Vertigem, Antonio Araújo (dia 20); a organizadora do volume "Heiner Müller - O Espanto no Teatro", Ingrid Koudela (dia 27); o diretor de teatro Rubens Rusche (dia 3 de setembro).
Com a programação gratuita, o projeto prevê ainda, para novembro, um workshop sobre técnicas de dramaturgia, no Centro Cultural São Paulo, e a criação de quatro textos com leituras dramáticas pelo Núcleo Dramáticas em Cena.

|Serviço: CICLO DE PALESTRAS - O TEXTO NO TEATRO CONTEMPORÂNEO
A partir de amanhã até 3 de setembro, às quartas-feiras, 21h
Espaço dos Satyros 1 (praça Roosevelt, 214; tel. 0/xx/11/ 3258-6345; classificação livre)
Entrada franca