Balé da Cidade celebra 40 anos com nova coreografia

Fonte: Folha De São Paulo

Com estréia amanhã no Municipal, novo espetáculo inclui a coreografia "Canela Fina", do espanhol Cayetano Soto

"Canela Fina" dura 22 minutos e leva cem quilos de canela ao palco; exposição no salão nobre completa comemorações

ADRIANA PAVLOVA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Uma excitação diferente tem rondado os ensaios do Balé da Cidade de São Paulo nas últimas semanas.
De repente, toda a bagagem da companhia, que este ano completa quatro décadas de existência, pareceu pequena diante da tormenta gestual da nova coreografia concebida para a temporada de festa.
Os experientes bailarinos são os primeiros a dizer que "Canela Fina", que estréia amanhã no Theatro Municipal, tem tudo para ser um marco na história desta companhia de São Paulo.
O motivo é a complexidade de movimentos criados pelo jovem coreógrafo espanhol Cayetano Soto, em seu primeiro trabalho no Brasil. São 22 minutos apenas, mas 22 minutos de muito vigor e uma movimentação nada banal para corpos tão trabalhados.
"Cayetano extrapolou", diz Mônica Mion, diretora da companhia. "Ele se entusiasmou com a qualidade dos bailarinos, estabelecendo uma empatia grande com eles, o que fez com que criasse um trabalho muito forte e autoral".
A verdade é que nem direção ou bailarinos esperavam tanto de um coreógrafo que chegou aqui por meio de uma parceria com o Gran Teatro del Liceu, de Barcelona, onde o Balé da Cidade se apresentará em setembro com o programa desta temporada -além de "Canela Fina", há "Dualidade@br", do iraniano radicado em Portugal Gagik Ismailian, e "Perpetuum", do israelense Ohad Naharin.
Até chegar à capital paulista, em maio, Soto já havia criado para o Royal Ballet de Flandres e o Balé Teatro de Munique, ambas sem qualquer projeção excepcional na dança mundial.
Aqui, com a ajuda de uma música contundente -"Weather I", do norte-americano Michael Gordon-, o coreógrafo de 33 anos com ares de intelectual moderninho, conseguiu dar uma sacudida na companhia, que desde 2004 trabalha somente com coreografias criadas para ela. "Esta companhia é inacreditável, os bailarinos são muito técnicos. Eu oferecia uma estrutura coreográfica e eles respondiam com os seus corpos", diz o espanhol, que em sua peça usa 16 dos 30 bailarinos do grupo.
"Em cena não há uma representação da música. Ao contrário, quando a música indica um caminho, vamos por outro. Há cortes abruptos, para dar um frio na barriga do público. Eu não gosto de meio-termo, quero que a platéia saia do espetáculo amando o que viu ou então odiando tudo."

Sensibilidade
"Canela Fina" é um termo espanhol que quer dizer pessoa legal, gostosa, bonita. Num primeiro momento, Soto pensou em tratar em cena, de alguma forma, a questão da sensualidade, mas, com medo do desgaste da palavra, prefere usar agora o termo sensibilidade.
No palco, há literalmente cem quilos de canela. "Quero que o público veja, escute e também sinta o cheiro da coreografia", diz.
"Canela Fina" marca a primeira grande estréia do Balé da Cidade em seu principal palco neste ano de comemoração.
Depois, o grupo segue para turnê na Espanha, Alemanha e França. Na esteira dos festejos, amanhã também será inaugurada no salão nobre do teatro uma exposição sobre os 40 anos do Balé da Cidade, com curadoria da jornalista Ana Francisca Ponzio.
Por meio de textos e fotos serão lembrados os principais momentos da trajetória do grupo que nasceu clássico em 1968, tornando-se em 1974 uma companhia como é hoje: com feições contemporâneas.

|Serviço:
CANELA FINA 
Sex., sáb. e ter., às 21h; dom. e qua., às 17h. Até 9/7 
Theatro Municipal (pça. Ramos de Azevedo, s/nº, tel. 3222-8698; classificação: 5 anos) 
R$ 10 a R$ 15