Prédio histórico de SP abrigará museu da TV

Fonte: Folha De São Paulo

Antigo Gasômetro, na região do Brás, será concedido pela prefeitura para projeto em festa com pioneiros da televisão

Vida Alves, 80, a atriz do primeiro beijo em novelas brasileiras, é responsável pela idéia de abrir ao público o acervo histórico das redes

LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Vida Alves, 80, atriz da primeira telenovela nacional e do primeiro beijo romântico da TV no país, agora tem razões para acreditar que finalmente conseguirá realizar seu grande sonho: a criação de um museu da televisão brasileira.
Na próxima segunda, dia 30, será realizada uma festa para celebrar a assinatura de um acordo no qual a Prefeitura de São Paulo cederá um local para abrigar o futuro Museu da TV Brasileira. Deverão estar presentes artistas globais, como a atriz Regina Duarte, dirigentes de emissoras, pioneiros da televisão, a exemplo do ator Lima Duarte (que participou da inauguração da TV brasileira), o prefeito Gilberto Kassab (DEM), o governador José Serra (PSDB) e outros políticos.
A cerimônia acontecerá onde futuramente será criado o museu, um endereço histórico para São Paulo, cidade berço da televisão no país -a primeira transmissão foi a de um show da paulistana TV Tupi, em 18 de setembro de 1950. Trata-se do Complexo do Gasômetro, na região do parque Dom Pedro (Brás, centro da cidade), onde funcionou a empresa responsável pela introdução da iluminação pública na capital paulista.
No local, o galpão principal, uma bela construção de tijolos aparentes, com 3 mil m2, será a área central do futuro museu, de acordo com o pré-projeto apresentado à prefeitura.
A Fundação Padre Anchieta (FPA), que administra a TV Cultura, está à frente da iniciativa. No ano passado, Vida Alves, que há 13 anos lutava para conseguir um local público para criar o museu, obteve o apoio da entidade, administrada majoritariamente com recursos do governo de SP.
A FPA contratou a empresa de produção cultural Base 7 para elaborar um pré-projeto do museu, ao qual a Folha teve acesso. A idéia não é fazer com que o público simplesmente veja televisores e câmeras antigos ou assista a gravações raras, mas que experimente no local o "encantamento" da TV, como explica o jornalista Paulo Markun, presidente da fundação.
"O objetivo não é só mostrar cenas históricas, mas também figurinos, cenários. Você pode, por exemplo, ter o cenário do Bolinha ao lado de uma tela com cenas do programa", diz.
Um galpão secundário deverá ser utilizado exclusivamente para os programas infantis, com uma provável reconstituição do cenário do "Castelo Rá Tim Bum", da Cultura, entre outros. Por fim, um galpão nos fundos do terreno deverá abrigar estúdios nos quais os visitantes poderão vivenciar a experiência de fazer um programa da TV. "É importante também que o museu reflita sobre as transformações da televisão e pense no futuro", afirma Markun. Para isso, a idéia é que haja mostras temporárias e um auditório para seminários.

Ainda falta verba
Markun ressalta que "o museu não é da TV Cultura" e está conversando com dirigentes das demais redes para que todas sejam parceiras.
A participação das emissoras é importante não só para que seus acervos, hoje privados, se tornem acessíveis ao público, mas também para viabilizar economicamente o museu.
O projeto tem um orçamento previsto de R$ 25 milhões, segundo o designer e artista plástico Ricardo Ribenboim, da Base 7, que concebeu a primeira idéia do museu, apresentada às TVs. Por enquanto, existe uma verba de R$ 4 milhões do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), designada para a restauração dos galpões do Gasômetros, antes abandonados. O museu foi formalmente criado por uma lei, proposta pelo vereador Farhat (PTB) - conhecido como "advogado do Ratinho" por atuar no programa trash- e assinada por Kassab em maio. Com isso, pode também contar com orçamento da prefeitura nos próximos anos. Uma previsão otimista, segundo Markun, é que a inauguração seja em 2010, antes do final de sua gestão na Cultura.