Novo museu em prédio da Prodam

Fonte: O Estado De São Paulo

Secretaria Municipal de Cultura planeja instalação de instituição, voltada para a arte do povo brasileiro, no edifício do Ibirapuera

Camila Molina

Um novo museu já está sendo preparado pela Secretaria Municipal de Cultura (SMC) para São Paulo. Por enquanto, seu título provisório é Museu A Mão do Povo e sua casa, já definida, será o Pavilhão Armando de Arruda Pereira, antiga sede da Prodam (Companhia de Processamento de Dados do Município), no Parque do Ibirapuera. A curadora independente e especializada em design, Adélia Borges, que dirigiu o Museu da Casa Brasileira, foi convidada e contratada pelo secretário Municipal de Cultura Carlos Augusto Calil a conceber um projeto do conteúdo da instituição museológica para ser instalada no pavilhão, prédio da SMC. Adélia entregou seu relatório final em abril de 2008. Calil afirma que até julho deve ser decidido como se dará a ocupação do prédio para que, até o fim do ano, já seja feita, pelo menos, uma mostra que sinalize o nascimento do museu - a instituição, provavelmente, só será inaugurada no próximo ano.

A base para a concepção do Museu A Mão do Povo foi o acervo do Museu de Folclore Rossini Tavares de Lima, coleção que pertence à Prefeitura e que reúne cerca de 3.800 objetos e obras, mais de 2 mil fotos; registros sonoros; e instrumentos musicais. Essa coleção começou a ser feita em 1947, por meio da coordenação do professor Rossini Tavares de Lima, para figurar em museu dentro do Centro de Pesquisas Folclóricas, do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo. A iniciativa, com força de Ciccillo Matarazzo, se efetivou com mais ênfase em 1953, com coleta de obras para a realização da Exposição Interamericana de Artes e Técnicas Populares, aberta em 1954 como parte dos festejos do 4º Centenário de São Paulo - depois, ainda, foram ainda sendo adquiridas peças para o acervo até a década de 1970. A partir dos anos 50 e até 2000, a coleção ficava na Oca, no Ibirapuera, dividindo espaço com o Museu da Aeronáutica - foi retirada de lá quando o prédio foi cedido para a então Associação Brasil + 500, dirigida por Edemar Cid Ferreira. O acervo do Museu do Folclore mudou-se, na época, para a Casa do Sertanista, da Prefeitura, onde estava 'mal instalado', diz Calil.

Como conta ainda o secretário, há cerca de dois anos o Ministério Público (MP) interpelou a Secretaria Municipal da Cultura pedindo que se tomasse providências para a conservação do valioso e amplo acervo. 'O Ministério Público determinou que a secretaria contratasse uma expertise para avaliar a coleção, catalogá-la e examinar o que havia se perdido dela', conta Calil. Dalva Bolognini, da empresa Raízes, realizou esse trabalho 'com indicação de peça por peça'. 'A constatação foi de que 10% da coleção estava deteriorada. Esperávamos mais prejuízo, ou seja, o acervo está mais ou menos intacto, e foi embalado e aguarda um destino. Por enquanto, está em um depósito nosso', afirma o secretário. Foi também o MP que insistiu para que a coleção voltasse ao Ibirapuera. Há anos um efetivo uso para o prédio da antiga sede da Prodam (com 11 mil m2) é tema de discussões, desde a gestão de Luiza Erundina.

Decidido que o Museu A Mão do Povo pudesse ocupar aquele prédio, Adélia Borges foi convidada a criar, com consultoria de Cristiana Barreto, Marcelo Manzatti e Maria Lúcia Montes, um projeto que fosse além do acervo Rossini Tavares de Lima. A instituição também receberá a coleção da Missão de Pesquisas Folclóricas realizada em 1938 sob a coordenação de Mário de Andrade (o acervo fica no Centro Cultural São Paulo) e deve abrigar as expressões contemporâneas da 'arte do povo brasileiro' (incluindo a indígena), uma definição oportuna da escritora e crítica Lélia Coelho Frota. 'Hoje a visão de cultura popular é muito dinâmica, ela inspira o design brasileiro, tem uma raiz profunda, mas não é coisa arcaica. Não será um museu do arcaico', explica o secretário.

'O grande foco é a contemporaneidade, mostrar a vitalidade do povo brasileiro nas mais diversas áreas', diz Adélia. No sentido de promover a 'interculturalidade', ela cita, por exemplo, o diálogo entre a arte dos repentistas com a dos rappers. 'Cultura popular e erudita estão sempre se imbricando, as categorias caducaram', afirma Adélia, responsável apenas pela concepção do consistente projeto. Ela também conta que sugeriu pacote de novas aquisições de peças e coleções particulares para o museu com R$ 500 mil.

Segundo Calil, há muita 'vontade política' para a concretização do museu, que será incluído na pasta da SMC (seu orçamento de 2008, por exemplo, é de R$ 300 milhões) - mas deve-se levar em conta que este momento de fim de gestão com as eleições, este ano, para a Prefeitura de São Paulo. Estima-se que serão usados R$ 7 milhões para as obras civis e R$ 5 milhões para instalação da nova instituição.