Moradores pressionam e desviam alça de viaduto em SP

Fonte: O Estado De São Paulo

MP apura por que obra não previa o impacto na vizinhança; complexo vai custar R$ 270 mi

Rodrigo Brancatelli

De tanto fazer pressão na Prefeitura, um grupo de moradores do City Lapa, bairro de casas de alto padrão na zona oeste, conseguiu alterar um trecho do futuro Complexo Anhangüera - novo “cebolão” para a Marginal do Rio Tietê que ficará pronto em 2010 e custará R$ 270 milhões. Um viaduto que cairia dentro das ruas tranqüilas e silenciosas do City Lapa foi retirado do projeto nas últimas semanas. O problema é que um novo acesso acabou sendo desenhado para o bairro vizinho da Vila Anastácio. Depois da fúria dos moradores, a construção passa agora a ser centro das atenções do Ministério Público Estadual, que vai investigar como uma obra dessa magnitude não está levando em conta os impactos na vizinhança.

Iniciado no mês passado, o projeto previa a construção de três acessos, entre a Ponte Atílio Fontana, na Marginal do Tietê, e o km 19 da Via Anhangüera, em Osasco, na Grande São Paulo. O primeiro acesso será entre a Marginal do Tietê e a pista sentido interior da Anhangüera. A segunda alça fará a ligação da pista sentido capital da Anhangüera com a Marginal. E o terceiro e mais polêmico trecho iria ligar o bairro do City Lapa à pista interior. A intenção da Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp), órgão ligado ao governo do Estado, é reduzir os congestionamentos nas principais saídas da rodovia no trecho da Grande São Paulo.

45 TONELADAS

Os novos elevados deveriam beneficiar diretamente 100 mil motoristas que trafegam diariamente pela rodovia. Segundo a Secretaria Estadual de Transportes, o Complexo Anhangüera também vai estimular a chegada de novas empresas à região, “contribuindo para a geração de empregos”. O detalhe é que ninguém checou com os moradores como seria o dia-a-dia do City Lapa com os caminhões de 45 toneladas passando pelas vias pequenas dessa região.

Com a ajuda da subprefeita da Lapa, Luiza Nagib Eluf, que também mora no City Lapa, representantes da Associação de Amigos e Moradores pela Preservação do Alto da Lapa e Bela Aliança (Assampalba) acionaram o Ministério Público, a Artesp e a Prefeitura para tentar apagar o viaduto do papel. “Tenho a impressão de que quem criou o projeto desconhecia o local e não fez um estudo detalhado do impacto no trânsito na região”, diz Luiza Nagib Eluf. O Estado apurou que foi a própria Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) quem pediu para a Artesp construir o viaduto no City Lapa para desafogar o trânsito da Marginal do Tietê.

De acordo com o presidente da Assampalba, Roberto Rolnik Cardoso, esse viaduto iria desembocar em uma área cujo tombamento está sendo estudado pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp) e pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat). “Não dava para o bairro absorver todo esse tráfego de caminhões, era inviável”, diz Cardoso. “Procuramos todas as instâncias para poder barrar a obra, e graças a Deus conseguimos mudá-la.”

NOVO TRAÇADO

Há cerca de 15 dias, depois de diversas reuniões com órgãos da Prefeitura, a Artesp anunciou como será o novo traçado do viaduto para não atrapalhar a vida no City Lapa. Agora, o acesso deverá acompanhar a linha férrea e desaguar na Vila Anastácio, bairro que até o começo do século passado era uma fazenda de plantação de chá. O Ministério Público já instaurou inquérito para apurar a denúncia de que não houve um novo estudo de impacto no bairro. A Promotoria da Habitação e Urbanismo também vai investigar se a obra ficará mais cara ou mais barata, por causa da pressão da associação de moradores do City Lapa. Foi solicitado às autoridades que mostrem todos os estudos realizados para a obra, mas até agora nenhum órgão se manifestou.

“É preciso sempre em casos como esse preservar a habitabilidade da cidade”, diz a subprefeita Luiza Nagib Eluf. “Não dá para achar que toda a cidade tem de ser industrial e ter de conviver com o tráfego pesado.”