Com teatro lotado e fila, Luiz Melodia abre Virada Cultural

Fonte: Folha De São Paulo

Público vaia ausência de Egberto Gismonti em show no Municipal; secretário diz que tranqüilidade do evento depende "de um pouco de sorte"

DA REPORTAGEM LOCAL

Tocando os acordes de "Estácio, Eu e Você", Luiz Melodia deu início, às 18h07 de ontem, no Theatro Municipal de São Paulo, à quarta edição da Virada Cultural, que acontece por 24h, direto, até as 18h de hoje.
Os 1.500 lugares do Municipal foram ocupados apenas por espectadores que chegaram antes das 16h à porta do teatro. Segundo a Guarda Civil Metropolitana, havia cerca de 5.000 pessoas na fila. Quem chegou depois, teve de acompanhar a apresentação de Melodia pelo telão instalado do lado de fora.
Usando sandálias de dedo, o cantor foi recebido de pé pelos felizardos que conseguiram entrar no teatro e disse que sentia como se tivesse começando sua carreira de novo. Auxiliado por quatro músicos, Melodia executou as dez faixas de seu primeiro álbum, "Pérola Negra", lançado originalmente em 1973, respeitando a ordem das faixas e os arranjos. Os momentos de maior comoção aconteceram quando o cantor entoou os hits "Estácio, Holly Estácio", "Magrelinha" e "Pérola Negra".
A estudante Marília Pulito de Aguiar, 19, que entrou na fila às 13h, conseguiu uma cadeira na terceira fileira. "No ano passado, fiquei mais de duas horas na fila para ver o João Bosco e peguei o pior lugar, no quarto balcão", disse Aguiar, que depois seguiria para as apresentações de Gal Costa e Zé Ramalho.

Mudança na programação
Às 21h05, também no Municipal, o público que aguardava a apresentação de Egberto Gismonti e Naná Vasconcelos respondeu com vaias ao anúncio de que o multiinstrumentista não participaria porque estava doente. Sozinho, Naná mudou o repertório. "Dança das Cabeças", de Gismonti, deu lugar a "O Corpo do Som".
Insatisfeitos, o músico Daniel Breipenbah, 21, e a mulher, a estudante Graciele de Souza, 26, deixaram o teatro após o primeiro solo de berimbau de Naná. "Foi uma tremenda falta de respeito com o público. A fila estava enorme e ninguém foi avisado de que ele não viria", disse Souza, que saiu de casa às 16h "só para ver Gismonti". "Egberto é como Frank Zappa, é uma coisa única. É muito rara a oportunidade de vê-lo no Brasil", disse Breipenbah.

Sorte
No palco montado na avenida São João, o show da cantora cabo-verdiana Cesaria Evora começou às 18h23 e foi acompanhado pelo secretário municipal de Cultura, Carlos Augusto Calil. Segundo ele, houve reforço no policiamento que, neste ano, tem 3.000 homens.
"A gente se preparou para evitar que coisas previsíveis aconteçam. Mas, como é um evento de grande dimensão, tem que contar com um pouco de sorte", disse Calil.
A apresentação de Cesaria Evora foi acompanhada por muitos casais de idosos. Os arquitetos Maria Inês Fiaschi, 63, e Luciano Fiaschi, 62, que moram em Perdizes, foram apenas para ver o show da cantora. "Quero ver e ir embora logo, porque mais tarde as coisas ficam mais complicadas", disse Maria Inês, em referência ao tumulto ocorrido no último ano no show dos Racionais MC's, na praça da Sé.
No palco do hip hop, na praça Cívica Ulysses Guimarães, na região do parque Dom Pedro, a programação começou por volta das 18h15 com uma queima de fogos. Antes de entrar no parque, que é todo gradeado e tem dois portões de acesso, todo o público foi revistado -inclusive bolsas e mochilas. Segundo a polícia, essa é uma prática comum em eventos ocorridos em espaços fechados, assim como acontece nos jogos de futebol. (JOSÉ FLÁVIO JÚNIOR, AUDREY FURLANETO E BRUNA BITTENCOURT)