Conselho pode liberar prédios de até 18 andares no Ibirapuera

Fonte: Folha De São Paulo

Projeto permite novos edifícios de até 54 m em área de 6 quadras no entorno do parque onde limite hoje é de 10 m

Conpresp analisa proposta para revogar restrição; associações de moradores criticam projeto e apontam interesse de construtoras

ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

O Conpresp (conselho municipal do patrimônio histórico) poderá liberar a construção de prédios mais altos em ruas do entorno do parque Ibirapuera, numa região nobre e fortemente disputada pelo mercado imobiliário da capital paulista.
A proposta de mudança na altura de edifícios da região foi preparada pelo DPH (Departamento do Patrimônio Histórico da Prefeitura de São Paulo) e deve entrar hoje na pauta de debates do conselho -podendo até mesmo já ser aprovada.
Ela abrange seis quadras da Vila Nova Conceição, onde, desde 1997, há um limite de dez metros na altura dos novos imóveis -fixado por conta do tombamento do Ibirapuera e das áreas residenciais adjacentes ao parque naquele ano.
A sugestão do DPH, ligado à gestão Gilberto Kassab (DEM), é revogar essa restrição e liberar edificações com até 54 metros de altura (semelhante à de prédios entre 15 e 18 andares) em duas das quadras e com até 27 metros em outras quatro. Elas são localizadas próximas da praça Cidade de Milão.
A idéia é atacada com veemência por associações de moradores, que acusam interesse da especulação imobiliária e dizem temer os efeitos da verticalização e do adensamento no bairro vizinho ao Ibirapuera.
O presidente do Conpresp, José de Assis Lefèvre, favorável à medida, diz ter havido um "erro" do órgão ao incluir essas quadras na restrição imposta pelo tombamento de 1997.
Alega que as características desse perímetro não eram totalmente residenciais e que essas vias já concentram 15 prédios com altura superior aos dez metros -aprovados ou construídos antes daquele ano.
"Não é destombamento nem liberação. É uma correção", afirma Lefèvre, para quem os novos limites, de até 54 metros, apenas seguem as características já existentes nessas ruas.
"Se, para eles, foi um erro, do nosso ponto de vista foi um acerto. E esse destombamento disfarçado pode abrir um precedente horrível numa região que já é adensada", afirma Lucila Lacreta, diretora do movimento Defenda São Paulo.
Lacreta se reuniu ontem à tarde com outros representantes de moradores da região para conhecer a proposta do DPH.
Em ofício enviado à OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), que tem um integrante no Conpresp, a Associação dos Moradores da Vila Nova Conceição alega que a mudança visa atender a "interesse particular" de alguns proprietários de imóveis -que pretendem vendê-los para as construtoras.
A entidade diz que "dentre os proprietários destaca-se a presença de uma empresa de empreendimentos imobiliários de renome" -não cita seu nome.
A Folha percorreu ontem à tarde parte das ruas envolvidas pela proposta de mudança. Dez imóveis tipicamente comerciais de uma quadra inteira da rua Afonso Brás já foram desativados e mantêm suas portas de aço fechadas. De acordo com vizinhos, eles foram adquiridos por uma construtora.
"O interesse da ocupação imobiliária é enorme", diz Mário Lorenzetti, que participa do conselho gestor do Ibirapuera.
O arquiteto Walter Pires, diretor do DPH, afirma que os estudos do órgão para sugerir a mudança foram técnicos e que a discussão surgiu há três anos devido à reivindicação de moradores do bairro. "A gente não recebeu nenhuma pressão direta do mercado imobiliário."
Segundo Pires, essas quadras têm uma ocupação urbana diferente do resto do entorno do Ibirapuera -e, por esse motivo, merecem ficar de fora dessa exigência do tombamento.