"Falstaff", de Verdi, estréia no Municipal

Fonte: Folha De São Paulo

Com direção de José Possi Neto e Rodolfo Fischer, montagem retoma produção de 2003

Trabalho de Possi Neto dá à música tratamento teatral no enredo; Rodolfo Fischer diz que ópera é uma das de mais difícil regência

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Giuseppe Verdi (1813-1901) já estava praticamente aposentado e consagrado mundialmente quando o compositor e dramaturgo Arrigo Boito conseguiu convencê-lo a compor uma nova ópera. Foi então que, aos 80 anos, em 1883, ele estreou "Falstaff", em Milão.
Era algo maravilhosamente diferente de tudo o que Verdi produzira durante 54 anos. Em lugar de árias ou duetos entrecortados por recitativos ou intervenção de corais, sua última ópera aderia à estética da música contínua. E não havia mais um drama baseado em episódios épicos ou histórias de amor que acabam mal. "Falstaff" é uma deliciosa comédia.
É justamente esse "Falstaff" que estréia hoje no Theatro Municipal, retomando uma engenhosa produção de 2003, com direção cênica de José Possi Neto. A direção musical é do chileno Rodolfo Fischer, maestro com 35 produções líricas no currículo e que substitui o diretor da Orquestra Sinfônica Municipal, José Maria Florêncio.
"É uma das óperas mais difíceis de reger", disse Fischer à Folha. "É como se a orquestra fosse um dos personagens no palco, intervindo com uma precisão quase camerística e com situações que exigem muito de todos os instrumentos, em combinações insólitas como a aparição simultânea de uma flauta e de um trombone."
"São muitos cantores que intervêm ao mesmo tempo, todos em situações bastante rápidas, o que exige do regente uma atenção extrema."
Mas há sobretudo o trabalho de José Possi Neto, que incorpora a música a uma concepção altamente teatral do enredo. O elenco deve cantar e interpretar segundo a mesma dinâmica.
Boito misturou para o libreto duas peças de Shakespeare, "Henrique 4º" e "As Alegres Comadres de Windsor", para construir as agruras de sir John Falstaff, um nobre falido que ignora sua decadência pessoal e que, apesar de velho, feio e obeso, considera-se credenciado às conquistas amorosas.
Falstaff é cantado pelo barítono Lício Bruno, cabendo à soprano Laura de Souza o papel de Alice Ford, cortejada pelo herói e mulher do ciumento Ford, interpretado pelo barítono argentino Leonardo Estévez. Há ainda a fofoqueira Mrs. Quickly, na voz da meio-soprano Regina Elena Mesquita.
Cenário de Jean-Pierre Tortil e figurino de Fábio Namatame transplantam a ação do século 14 para o 19. Mas ninguém sai perdendo.

|Serviço:
FALSTAFF 
hoje e nos dias 7, 9 e 11, às 20h30, e no dia 13, às 17h 
Theatro Municipal (pça. Ramos de Azevedo, s/nº, tel. 0/xx/11/ 3222-8698) 
De R$ 10 a R$ 20