Vozes unidas pela negritude

Fonte: O Estado de São Paulo

A poesia de Cantos Negreiros em encontro literomusical

Lauro Lisboa Garcia

Cantos Negreiros, que reúne a cantora paulistana Fabiana Cozza, o escritor pernambucano Marcelino Freire e o cantor baiano Aloísio Menezes, é de uma força assombrosa. O recital literomusical - que tem mais duas apresentações hoje e amanhã na Biblioteca Alceu Amoroso Lima - comunga textos (do livro Contos Negreiros, de Freire, premiado com o Jabuti) e canções de temática libertária não só em defesa da raça negra, mas que toca 'sentimentos de todos nós', como diz o autor. O público se emociona, vibra, dança, não cabe em si nem no auditório, lotando as dependências em torno dele na biblioteca.

O roteiro tem canções de impacto, como Canto das Três Raças (Mauro Duarte/Paulo César Pinheiro), Negrume da Noite (Paulinho do Reco/Cuiuba), Massemba (Capinam/Roberto Mendes), Sorriso Negro (Dona Ivone Lara), Senhora Liberdade (Wilson Moreira/Nei Lopes). Elas fazem par, comentam, dão continuidade ou aliviam a porrada dos textos de Freire, alguns dos quais são de seu próximo livro, Rassife - Mar Que Arrebenta, previsto para sair em julho.

Os vozeirões de Fabiana e Menezes (um daqueles tesouros inéditos que a Bahia preserva) são páreo duro para Freire. Mas ele, que lançou um audiolivro com textos do recital, também tem seus arroubos interpretativos que vêm do teatro, de quando escrevia peças e atuava no Recife. 'Costumo dizer que escrevo em voz alta, imaginando o som das palavras, interpretando-as. É uma forma de eu retornar ao palco.'

A idéia dos Cantos Negreiros surgiu em 2005 no lançamento de Contos Negreiros, durante a Flip (Festa Literária Internacional de Paraty). O recital já foi apresentado outras vezes na Alceu Amoroso, em algumas unidades do Sesc, em Salvador, Recife e no Teatro Brincante, onde volta em temporada em maio. 'Escrevo para me vingar, para gritar sobre o que me incomoda. E no momento que estou cara a cara com o espectador-leitor, parece que faço uma vingança coletiva', diz. Como diz Xico Sá, no prefácio do livro de Freire, o que se presencia aí 'é doce, mas não é mole'.


(SERVIÇO)Cantos Negreiros. Auditório da Biblioteca Alceu Amoroso Lima (133 lug.). Rua Henrique Schaumann, 777, tel. 3082-5023. Hoje e amanhã, 19 h. Entrada franca