Luis Louis busca novo olhar sobre a mímica

Fonte: O Estado de São Paulo

Ator e diretor coloca em cena quatro espetáculos e alerta para a confusão comum entre essa arte e a silenciosa pantomima

O diretor e ator da Cia. Luis Louis passou cinco anos estudando na Inglaterra com mestres do chamado teatro físico e da mímica. 'O nome da companhia vem da brincadeira que une a sonoridade de meu nome no Brasil e no idioma inglês.' De volta à terrinha, em 1997, criou o seu Estúdio de Mímica, a um só tempo escola, espaço de formação e núcleo de pesquisa.

A partir de hoje, com a estréia do espetáculo Sistema Nervoso, dirigido e criado por Luis, que divide o palco com André Capuano, começa no Centro Cultural São Paulo uma pequena mostra do trabalho desenvolvido no Estúdio Luis Louis. São três espetáculos adultos - Sistema Nervoso, Risco de Vida, Sintoma - e um infantil, Missão Super Hiper Importante.

Mímica é a linguagem de todos os espetáculos, mas que ninguém espere aquele gestual lírico e silencioso, marca do artista Marcel Marceau (1923-2007). 'A maioria das pessoas ainda associa mímica à pantomima, arte silenciosa realizada por um ator com o rosto pintado de branco', argumenta Luis. Também por isso, ele lança com a mostra o Manifesto da Mímica Total para dizer que o o mímico canta, fala, grita e ainda que a mímica é condensação do gesto e da palavra em busca de potência. É arte e é filosofia.

A leitura do manifesto acaba por mostrar uma busca que é comum a muitos artistas: o desejo de criar obras a um só tempo viscerais, expressivas, tecnicamente apuradas e vivas. 'A mímica é o ato de corporificar uma idéia e de potencializar a sua expressão através do gesto. O nosso grande desafio é beber na fonte de mestres como Étienne Decroux (1898-1991) e Steven Berkoff, e a partir daí criar nossas próprias matrizes.' Até que ponto o diretor e seu grupo de oito integrantes se aproximam de sua ambição pode ser conferido na mostra do CCSP.

'Estou muito feliz com esses quatro trabalhos que considero muito potentes', afirma Luis. Sistema Nervoso tem como ambiente um ringue de boxe onde lutam Luis e André Capuano. 'O sujeito cai nocauteado e a partir daí repensa sua vida, revê as idéias que introjetou.' Por exemplo? 'Sabe quando alguém diz: a única certeza que temos é a morte? Não é, é a vida. Ele vai desmontando as frases feitas, revendo os conceitos que vêm do senso comum. Parece 'cabeça' demais dito assim, mas tem muito humor.'

Luis praticamente sai de campo em Risco de Vida, solo da atriz Silvana Abreu, também responsável pelo texto e concepção do monólogo. 'Ela viveu uma situação extrema, viu a morte de muito perto. Essa experiência ela expressa agora, recriada.' Duas atrizes estão em cena em Sintoma - Ângela Sassine e Paula Petreca. Em cena, uma mulher de meia-idade que subitamente, na sala de espera de um consultório, se depara com seus desejos. 'É uma provocação bem-humorada sobre a repressão.'

O trio Jô Rodrigues, Lene Bastos e Marcelo Pessoa interpreta três crianças que procuram um livro que traz a resposta para a pergunta: o que é a vida? Para tanto, terão de viajar até a Ilha da Caveira, o que por si só vai resultar em aventura e conhecimento.


SERVIÇO: Manifesto da Mímica Total. Sáb., 21 h, Sistema Nervoso. Dom., 20 h, Risco de Vida. 6.ª (22/2), 21 h, Sintoma. Sáb. (23/2) e dom., 16 h, Missão Super Híper Importante. Centro Cultural São Paulo - Sala Jardel Filho (324 lug.). Rua Vergueiro, 1.000, 3383-3400, metrô Vergueiro. R$ 10. Até 23/3