Tradição de Yamada é foco de ciclo no CCSP

Fonte: Folha de S. Paulo

Importância de diretor ficou eclipsada por outros nomes do cinema moderno japonês

Centro Cultural São Paulo programa mostra com nove filmes do diretor, incluindo "O Resgate de Tora-san" e "O Samurai do Entardecer"




CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Ano de comemoração é também de revisão e de apresentação. O do centenário da imigração japonesa começa com o pé direito, com uma necessária, apesar de modesta, mostra que reúne nove títulos do diretor Yoji Yamada, cujo currículo registra 72 obras.
Hoje com 76 anos, Yamada começou como assistente e pertence à mesma geração de nomes como Oshima, Yoshida e Shinoda, jovens cineastas que lançaram a chamada "nouvelle vague japonesa", no início dos anos 60.
Ao contrário de seus companheiros de geração, Yamada optou por um cinema mais convencional e sem grandes arroubos. Com isso, seu nome ficou eclipsado na projeção internacional, que captou essencialmente a modernidade do ponto de vista representado por seus pares.
Porém, a idéia de tradição, constante em seus filmes, não se confunde com falta de criatividade. Como Ozu, um de seus mestres assumidos, e como Frank Capra, uma de suas maiores influências, Yamada preferiu não se mover muito como forma de representar as mudanças.
O exemplo maior de sua quase imobilidade é a extensíssima série (48 títulos!) dedicada a um mesmo personagem, Torajiro Kuruma, o popularíssimo (no Japão) Tora-san. De 1970 a 1995, Yamada se concentrou em acompanhar as desventuras de Tora-san na série, conhecida pelo título "É Triste Ser Homem". Em cada um dos filmes, Torajiro viaja pelo Japão, apaixona-se platonicamente, e essa estrutura simples permite a Yamada registrar as mutações sociais, familiares e individuais de seu tempo.
"Tora-san Tira Férias", de 1990, e o derradeiro "O Resgate de Tora-san", de 1995, serão exibidos no ciclo do CCSP.
Em outro ciclo, "Escola", composto por quatro títulos, Yamada focalizou os dramas da entrada na vida adulta. Desta série, a mostra no CCSP exibe "Escola 2", de 1996, e "Escola 4", de 2000.
Da fase mais recente do trabalho do diretor, o maior destaque é "O Samurai do Entardecer" (2002), exibido comercialmente no Brasil em 2006. Misto de crônica de costumes e filme crepuscular, "O Samurai do Entardecer" exibe o sofisticado artesanato de Yamada, avesso a choques formais, mas conduzido com uma maestria capaz de captar o lado pequeno da vida.
Neste retrato de um homem que recusa a vida heróica, o que mais chama a atenção é sua semelhança com a trajetória cinematográfica do próprio cineasta.

DIRETOR EXIBE NOVO FILME EM BERLIM
Yamada está na competição principal do Festival de Berlim com "Kabei", que será exibido amanhã. Depois de "O Samurai do Entardecer", de 2002, Yamada realizou mais dois filmes de samurai que compõem com aquele título uma espécie de trilogia: "A Espada Oculta", de 2004, e "Amor e Honra", de 2006. Leia mais sobre o Festival de Berlim na pág. E8