Jaraguá


Jaraguá
Caio Reisewitz
Casa da Imagem
25 de outubro de 2014 a 08 de março de 2015 
Terça a domingo, das 9 às 17h

 
Tema recorrente na fotografia de Caio Reisewitz, a paisagem, retratada com exatidão técnica e frequentemente apresentada em grande formato, produz um indisfarçável sentimento de distanciamento do mundo contemporâneo, em alguns casos motivado pela exuberância da natureza, cada vez mais escassa, circunstância que a torna, de certa forma, exótica. Estes cenários também expressam o posicionamento crítico em relação à atuação do homem, uma das características mais contundentes na obra do autor. 
 
Foi a pintura de um artista brasileiro ligado à representação da paisagem, Jorge Furtado de Mendonça, que estimulou a pesquisa de Reisewitz em acervos e o desenvolvimento da exposição na Casa da Imagem. Nestas fotografias, duas operações dimensionam a escala monumental de abordagem do Pico do Jaraguá. Protagonista na topografia de São Paulo (“ponta proeminente”, “protetor do vale”, na língua tupi-guarani), a elevação encontra-se seccionada, na atualidade, da mancha urbana que a cerca; um gesto proposital em circunscrevê-la no âmbito da idealização e de impelir autonomia no discurso poético. Por consequência, a imagem do Jaraguá repete-se sucessivamente, alternada em formatos diferentes e, em alguns casos, dispostos lado a lado, estratégia interpretativa que ressalta o caráter instalativo da mostra – claramente afastado de um partido documental e do esperado recorte da cena em uma única janela. 
 
Abraçado pela multiplicidade de visões, momentaneamente o observador se perde em indagações acerca de sua temporalidade, hesitação resultante do confronto com a memória geográfica, uma vez que são imagens distintas das que se avistam ao cruzar viadutos e estradas da cidade. A desconfiança é reforçada pelas cores atenuadas, típicas das pioneiras ampliações coloridas obtidas através do processo desenvolvido pela indústria Agfa. 
 
Lidar com a escala monumental e despertar a incerteza no observador também foi um recurso utilizado no Panorama da Cidade de São Paulo, emblemática fotografia de Valério Vieira, apresentada na Exposição Comemorativa do Centenário da Independência, no Rio de Janeiro, cujo retoque de pintura sobre a fotografia e a junção de cinco grandes negativos causam um estranhamento na perspectiva do bairro de Campos Elíseos.  
 
1. Jorge de Mendonça (1879-1933)
Sem título (Pico do Jaraguá), s/d
Óleo s/ tela, 0,82 x 1,31 m
Coleção de Arte da Cidade – Centro Cultural São Paulo
 
2. Valério Vieira (1862-1941)
Panorama da Cidade de São Paulo, 1922
Óleo s/ fotografia, 1,60 x 14 m
Coleção de Fotografia Iconográfica – Museu da Cidade de São Paulo


Hesitant landscape

A recurring theme in Caio Reisewitz's photography, landscape is always depicted with technical accuracy and often presented in large format, producing an unmistakable feeling of distance from the contemporary world, which, in some cases, is motivated by the exuberance of an increasingly scarce nature, a condition that makes it somewhat exotic. These scenarios also express a critical position in relation to the actions of man, one of the most striking features in the artist's works.

It was the work of a Brazilian artist, Jorge Furtado de Mendonça, connected to landscape representation, that stimulated Reisewitz's research in different collections and the development of his exhibition at Casa da Imagem. In these photographs, two operations register the monumental scale in approaching the Pico do Jaragua. Protagonist in the topography of São Paulo ("prominent tip", "protector of the Valley" in the indigenous language of Tupi-Guarani), the elevation is now sectioned from the urban sprawl that surrounds it; a deliberate gesture to circumscribe it within an idealization and propel its autonomy in poetic discourse. Consequently, the image of the Jaragua is repeated successively in different formats and, in some cases, arranged side by side; an interpretive strategy that highlights the installational character of the exhibit - clearly removed from a point of documentation and from the expected cut-out of the scence through a single window.
 
Embraced by a multiplicity of visions, the observer is momentarily lost in questions about temporality, a hesitation resulting from a confrontation with his or her geographical memory, since the images presented here differ from the ones seen when crossing bridges and roads of the city. The suspicion is reinforced by the attenuated colors, typical of the pioneer colored photo enlargements obtained through the industrial process developed by Agfa.

To deal with monumental scale and arouse the observer's uncertainty were also  resources used in Panorama da Cidade de São Paulo, the emblematic photograph by Valério Vieira presented at Exposição Comemorativa do Centenário da Independência (Exhibition in Commemoration of the Centennial of Independence), in Rio de Janeiro, of which the retouched paint, applied directly on the photograph, and the junction of five major photo negatives cause an estrangement on the perspective of the Campos Elíseos district.

1. Jorge de Mendonça (1879-1933)
Untitled (Pico do Jaraguá),  undated
Oil on canvas, 0,82 x 1,31 m
Collection of Art from the City – Centro Cultural São Paulo

2. Valério Vieira (1862-1941)
Panoramic of the city of São Paulo, 1922
Oil on photograph , 1,60 x 14 m
Collection of Iconographic Photography - Museum of the City of São Paulo