Democracia na história - módulo II

Acerca da onda de protestos iniciada no país no primeiro semestre desse ano, a Biblioteca Mário de Andrade lança o segundo módulo do ciclo de palestras sobre a democracia na história, que ocorrem entre os meses de outubro e novembro de 2013.

Com o objetivo de promover a discussão em torno dos diversos agentes sociais que compõem as manifestações, o ciclo pretende fornecer aos cidadãos o conhecimento histórico de vários períodos no Brasil, em que as crises levaram ao surgimento de modelos políticos mais democráticos, em alguns casos, ou mais autoritários, em outros.

De modo a ampliar a reflexão sobre o tema e a contribuir para a discussão sobre o rumo que os protestos têm tomado nestes últimos tempos, a Biblioteca reúne uma equipe de acadêmicos consagrados.

Programação:

Dia 17/10 - quinta
Cultura popular no Brasil contemporâneo: tensões e perspectivas
Palestra do historiador Marcos Silva


Alguns dos principais estudos clássicos sobre cultura popular no Brasil (textos de autores como Sylvio Romero, Mário de Andrade e Luís da Câmara Cascudo) foram escritos tomando como referência um país com maioria de população rural e analfabeta. As radicais mudanças na composição demográfica do Brasil desde os anos 50 do século XX (predomínio crescente da população urbana, imigrações e migrações internas, maiores índices de alfabetização, presença dos meios de comunicação) convidam a pensar sobre seus patamares atuais. Seria fácil supor que a cultura popular apenas deixou de existir, devorada pela indústria cultural. Propomos uma reflexão sobre suas novas configurações, englobando tradições e mudanças naquele contexto. A preservação da cultura popular passaram a incluir novos referenciais (alfabetização, rádio, televisão, internet, cotidiano urbano), sem mera submissão a seus termos.

Marcos Silva é professor titular de Metodologia no Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humandas da USP. Publicou, dentre outros livros, Prazer e poder do Amigo da Onça (Paz e Terra, 1989) e Rimbaud etc: história e poesia (Hucitec, 2011). Organizou 12 coletâneas e uma delas é Câmara Cascudo e os saberes (Fundação Biblioteca Nacional/Fundação Miguel de Cervantes, 2013).


Dia 24/10 – quinta
A República Oligárquica (1889-1930)
Palestra do historiador Lincoln Secco


A República brasileira não se fez acompanhar da idéia de democracia, mas com sua proclamação em 1889 outros grupos sociais emergiram no seu pólo oposto: os setores médios radicalizados e, sob forte repressão, a classe operária. A palestra visa apresentar questões sobre as lutas de classes deste período.

Lincoln Secco é professor livre docente de História Contemporânea na Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP). É autor dos livros A Revolução dos Cravos (Alameda), Caio Prado Junior: o sentido da Revolução (Boitempo) e História do PT (Ateliê) entre outros.

Dia 31/10 – quinta
A construção do governo representativo no Brasil no século XIX
Palestra da historiadora Miriam Dolhnikoff


A democracia moderna é uma variação histórica do modelo de governo representativo construído no mundo ocidental a partir do final do século XVIII. No Brasil este tipo de regime tem sua origem na monarquia constitucional implementada após a independência. Apesar de ser uma sociedade escravista, a elite que estava construindo o Estado estava empenhada em organizar um governo que fosse de fato representativo, pois esta seria uma garantia de canalizar os conflitos para o interior das instituições, legimando-as. A compreensão deste processo enriquece o entendimento da história posterior da democracia brasileira.

Miriam Dolhnikoff é professora do departamento de História da USP e do Instituto de Relações Internacionais da USP. Pesquisadora do Centro Brasileiro de Analise e Planejamento (Cebrap). Autora do livro O pacto imperial: origens do Federalismo no Brasil e do livro José Bonifácio: o patriarca vencido.

Dia 21/11 - quinta
A radicalização democrática : O caso da Viena Vermelha e da Republica de Weimar (1918-1933).
Palestra de Walquiria Leão Rego


As duas experiências de radicalização democrática ocorridas no entre guerras desenvolveram instituições e práticas políticas ligadas a ideias socialistas e democráticas. Inspiradas no marxismo e desenvolvidas no interior dos partidos social democratas, alemão e austríaco, ambos os experimentos tiveram muitos elementos em comum. Um deles foi a implementação da  chamada, democracia conciliar, ou conselheira. No seu âmbito formou-se uma rede de conselhos participativos: tanto de cidadãos, como os  ditos conselhos funcionais. O bom governo e o bem estar social da grande maioria foram elevados a valor supremo das práticas administrativas das cidades governadas por sociais democratas do período em pauta.

Walquiria Leão Rego é professora Titular de Teoria Social da Universidade Estadual de Campinas. Atualmente trabalha com teorias da cidadania e pesquisa empírica sobre os efeitos políticos e morais do Programa Bolsa Família para as mulheres beneficiadas pela renda monetária proveniente do programa estatal de transferência de renda. É autora de Bolsa Família, autonomia, dinheiro e cidadania (Unesp, 2013) e do artigo Liberdade, Dinheiro e Autonomia: o caso do Bolsa Família na Revista Política e Trabalho (UFPB,2013) dentre outros.