Colombiana vê no Trabalho Novo a esperança de uma vida melhor

Programa da Prefeitura de São Paulo empregou mais de mil pessoas apenas neste ano

 

Foto e texto: Bianca Barbosa

Dora Elisa Hoyos Orejuela é uma colombiana gentil de 47 anos que mora no Centro de Acolhida Especial (CAE) para Mulheres Estrangeiras Nossa Senhora de Aparecida, equipamento conveniado à Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social. O semblante tranquilo esconde uma história de vida cheia de dores e desafios.

Grande parte dos imigrantes vêm para o Brasil para tentar melhorar de vida, trabalhar ou fugir de países em conflito. Dora veio por um motivo diferente.
Ela trabalhava muito na Colômbia. Mãe solteira, se dividia entre três empregos para dar uma vida tranquila ao filho. Eles moravam em um bairro conhecido pelo frequente conflito entre duas gangues.

Como era de costume, certo dia o filho de Dora caminhava até a casa da avó, que ficava bem perto. Mas o pequeno não sabia que aquele era um caminho só de ida. Naquele momento ocorria um tiroteio entre os integrantes das duas gangues - o menino foi atingido e não sobreviveu. Ela desabou.

Recomeçar e aprender a viver sem ele, mas como esquecer? A perda de um filho é como uma ferida que não se fecha, vazio que não pode ser preenchido. Mas Dora tentou. A colombiana recebeu uma proposta de emprego para ser babá no Brasil. Pensando em esquecer a tragédia do filho, Dora arrumou as malas e veio.

Apesar de gostar do emprego, depois de dois anos no Brasil, os patrões de Dora foram transferidos para a Alemanha a trabalho e por causa do visto ela teve que ficar aqui. A colombiana continuou fazendo “bicos” como babá, até que entrou em uma empresa para fazer limpeza. Com o salário, conseguiu alugar um cômodo e se sustentar.
Infelizmente, Dora foi maltratada na empresa e por conta da sua falta de habilidade com o idioma foi enganada e demitida. “Foram três anos de sacrifício, suportando muita coisa e ainda me dispensaram por justa causa, doeu. Não consegui advogado ou alguém que me ajudasse. Acredito que muita gente passou pela mesma coisa.“

Ao ser questionada sobre a dificuldade de um estrangeiro arrumar emprego no Brasil por conta da língua, Dora afirma que “tem muito preconceito sim. Quando cheguei aqui, não falava fluentemente bem, misturava as palavras. Isso me deu muito trabalho."

Dora não conseguia sair para arrumar emprego e os problemas viraram uma bola de neve. Devendo dinheiro do aluguel, ela morou por um tempo na igreja que frequentava, até que procurou o Centro de Atendimento ao Trabalhador (CAT) e de lá foi encaminhada ao centro de acolhida. Pouco tempo depois, ela foi inscrita no programa Trabalho Novo da Prefeitura e hoje trabalha na área de limpeza da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Itaquera.

O emprego surgiu como uma nova esperança. Hoje, a colombiana pensa em melhorar de vida e conseguir uma casa própria. “Eu tenho esperança que um dia vou sair daqui, ter uma vida normal. Acredito que esse lugar é para acolher quem precisa por um período, pois vem outras pessoas com maiores problemas. Quero estabilizar minha vida financeira e quem sabe poder contribuir com o CAE. Fui muito ajudada aqui.”

Apesar de tudo o que passou, o sonho de Dora é se formar em Assistência Social e ajudar as pessoas. “Meu intuito é de ajudar no que puder. Quero cuidar de crianças. Gostaria muito de trabalhar em um berçário, gosto de cuidar dos bebês. Quem sabe um dia eu consigo, não é mesmo?"

Serviço

Mantido por meio de convênio entre a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social e a Associação Palotina no bairro Penha, o CAE Nossa Senhora de Aparecida acolhe atualmente 54 mulheres e 22 crianças.

Oferece hospedagem com quatro refeições por dia, lavanderia, sala de informática e uma sala de aula com biblioteca infantil. Porém, o principal é oferecido pelas próprias mulheres: o convívio e a troca de conhecimento e cultura entre elas.

O tempo de acolhimento é definido de acordo com a necessidade das acolhidas, que utilizam o tempo no CAE para procurar emprego e estabilizar a vida financeira.

Marilene Maria da Silva, assistente administrativa do CAE, conta que o preconceito é a maior barreira que as acolhidas enfrentam na hora de procurar emprego. “Elas saem animadas e voltam falando que a entrevista foi ótima, mas no dia seguinte recebem a ligação dizendo que não passaram. Dá aquele banho de água fria. A gente acaba se compadecendo, ficando triste. Nós vemos a luta delas, saindo todo dia para arrumar trabalho.”

Geralmente a primeira dificuldade que as estrangeiras enfrentam é o idioma. A maioria das acolhidas vêm do continente africano e grande parte delas só sabe falar a própria língua. Três funcionários do CAE são estrangeiros: um recepcionista é congolês, um cozinheiro haitiano e uma funcionária da lavanderia é angolana.

Trabalho Novo

O Programa Trabalho Novo, implementado pela Prefeitura de São Paulo no início do ano, superou as 1.000 vagas preenchidas, entre mais de 10 mil disponibilizadas por parceiros. O programa reinsere no mercado de trabalho pessoas que vivem nas ruas da cidade. Mesmo com a disponibilização de todas essas vagas, a contratação não é imediata, já que os candidatos passam por uma capacitação socioemocional antes de assumirem os postos de trabalho.

As pessoas em situação de rua serão contratadas, preferencialmente, em unidades próximas aos locais onde vivem, com cargos em diferentes áreas de atuação. Nas empresas, eles passam por treinamentos e possuem a possibilidade de crescimento profissional. O programa também atua na relação com o RH das empresas parceiras, para que a gestão de pessoal dos participantes do Trabalho Novo considere as especificidades dessa mão de obra.