Luta, fé e persistência: dois homens em busca de um futuro promissor

As trajetórias de vida de Luiz e Valdenizeo colecionam força de vontade e superação

Foto e texto: Marcos Gabriel

Quem vê Luiz dos Santos Mocca, 48 anos, sentado em um dos bancos que decoram o Centro de Acolhida Prates I, nem imagina as dificuldades que ele já passou na vida.

Hoje, muito mais estabilizado e tranquilo do que antigamente, Luiz conta sua história surpreendente, repleta de muita luta e dor, mas também regada de fé e a esperança de um futuro promissor.

''Estou aqui no Complexo Prates há quatro meses. Mas antes disso, muita coisa aconteceu na minha vida. Em 1990, eu me formei em contabilidade, no Tatuapé. Logo em seguida me separei da minha primeira mulher e comecei a perder o rumo da minha vida''.

Foi em 1998 que Luiz desmoronou. Entregou a vida ao crack e perdeu seu emprego na área da contabilidade. Ele foi se afundando cada vez mais nas drogas e não quis ajuda.

''Parei no tempo completamente. Todo esse tempo foquei nas drogas e esqueci de me cuidar. Não queria ajuda, só queria a vida que eu levava. Vida de malandro é muito boa sim, mas tem seu preço e eu paguei''.

Em março deste ano, Luiz estava vivendo na região da Cracolândia quando pegou uma pneumonia e conheceu o Centro de Acolhida Prates. ''Quando cheguei aqui eu me assustei. Mas sem medo, comecei a fazer os tratamentos e tudo o que me pediam e eu consegui ir me curando aos poucos'', contou.

Luiz logo conseguiu um emprego como taxista, que infelizmente não deu certo. Com o programa Trabalho Novo, criado pelo atual prefeito João Doria e que já arrumou oportunidades de trabalho para 1.045 pessoas em situação de rua, conseguiu outra oportunidade.

''Veio esse projeto e eu consegui um emprego como faxineiro no Hospital das Clínicas. Você sair da escuridão é um processo lento, mas que cada passo vale'', disse.

Hoje, Luiz se vê no caminho certo. ''Não sei o que aconteceu comigo, mas o meu avanço é diário. Não uso mais drogas há mais de sete meses. Quando penso em qualquer coisa relacionada ao crack, logo faço de tudo pra mudar de pensamento."
''Hoje, estou pronto pra recuperar todo o tempo que eu perdi por conta dessa maldição na minha vida'', finalizou.

Homens distintos, histórias parecidas

A empolgação de Valdenizeo Pereira, 35 anos, mostra a sua recuperação durante a vida. Ele, que veio para São Paulo há cinco anos, se entregou à droga e ao álcool em um momento de fraqueza. ''Vim para São Paulo tentar a vida e comecei fazendo origamis. Nesse intervalo de tempo fiquei confuso e acabei cedendo para as drogas e para o álcool'', contou.

Durante o tempo que ficou realizando esse trabalho, Valdenizeo não soube administrar sua vida e acabou colocando sua saúde e futuro em risco. ''Depois que eu vi que estava realmente acabado, decidi procurar ajuda. Foi quando entrei pro Centro de Acolhida Arsenal da Esperança, onde aprendi muita coisa''.

No tempo em que viveu no Arsenal, Valdenizeo trabalhou e muito. ''Lá aprendi tanta coisa. Fiz curso de padeiro, confeiteiro, artesanal e eletricista. Foi aí que eu vi o meu rumo mudar''.

Com um sorriso no rosto, ele conta como conseguiu uma vaga como padeiro oficial do serviço em que estava. ''Eu percebi o tanto que eu amava trabalhar na cozinha e me ofereci para cozinhar para o pessoal do centro de acolhida. Perguntaram se eu tinha realmente vontade, foi quando me deram o avental e eu comecei a cozinhar pra 1.200 pessoas''.

Depois que começou a fazer o que realmente gostava, Valdenizeo foi em busca de um emprego, realizando o programa oferecido pela Rede Cidadã para inserção no mercado de trabalho por meio do Programa Trabalho Novo.

''Foi aí que eu me estabilizei, não pra sempre, mas consegui. Trabalho na Guima como auxiliar de limpeza há dois meses. Esse sorriso no rosto foi dado graças a esse serviço que estou hoje que tanto me ajuda'', finalizou.

Trabalho Novo

O programa reinsere no mercado de trabalho pessoas que vivem nas ruas da cidade. Já foram 1.045 contratações efetivadas, com apenas 94 demitidos e 91% de retenção.
As pessoas em situação de rua são contratadas, preferencialmente, em unidades próximas aos locais onde vivem, com cargos em diferentes áreas de atuação. Nas empresas, eles passam por treinamentos e possuem a possibilidade de crescimento profissional. O programa também atua na relação com o RH das empresas parceiras, para que a gestão de pessoal dos participantes do Trabalho Novo considere as especificidades dessa mão de obra.

Já foram disponibilizadas 10.150 vagas por mais de 50 parceiros, entre elas garçons, funcionários de atendimento, operacionais e de limpeza. A meta é conseguir trabalho para 20 mil pessoas em situação de rua até o fim da gestão.