Maranhense supera dificuldades e recomeça vida no Centro de Acolhida Lygia Jardim

Depois de diversos obstáculos, Alexandre encontrou oportunidades para escrever uma nova história

 

Por: Marcos Gabriel

Logo quando chega ao centro de acolhida Lygia Jardim, depois de um longo dia de trabalho, Alexandre Bezzera, 44 anos, guarda seus pertences e desce ao refeitório para jantar. Hoje em dia essa é sua realidade. Porém, antigamente, a rua, a fome e a dificuldade faziam parte de sua rotina.

Os obstáculos na vida de Alexandre começaram a aparecer em 2006, logo após a morte de sua mãe, em São Luís, no Maranhão. ‘’As coisas ficaram complicadas depois disso e comecei a sofrer desavenças com toda a minha família’’, contou.

Rapidamente, ele saiu de sua cidade e veio para São Paulo com o objetivo de recomeçar sua vida bem longe do passado. Mesmo com tamanha determinação e coragem, Alexandre se deparou com pedras no caminho, deixando completamente sem vontade de continuar.

‘’Já vim para São Paulo com alguns problemas psicológicos. A minha autoestima estava baixa, eu não tinha coragem de nada, somente medo e vontade de desistir’’, disse.

Alexandre conta que nunca imaginou que encontraria um dos piores inimigos de quem vive na rua: a fome. ‘’Eu passei fome, não tinha dinheiro para comer e, então, ficava procurando ajuda ou alguma luz que me tirasse daquela situação’’, expressou.

Mesmo sem esperança alguma, o maranhense afirma que nunca utilizou drogas nem álcool. ‘’Uma coisa que tenho orgulho de falar é que nunca consegui usar drogas ou ingerir álcool. Eu até tentei, mas parei rapidamente’’.

Oportunidades

Aos poucos, Alexandre foi absorvendo as ideias e fazendo todo o esforço possível para colocar sua cabeça no lugar. Alguns anos depois de viver nas ruas, foi alertado sobre centros de acolhida que funcionavam em São Paulo.

‘’Me alertaram sobre o Centro de Acolhida São Martinho, onde eu poderia tomar banho, fazer minhas refeições e até descansar’’, contou.

Depois de descobrir o serviço, Alexandre foi se estabilizando aos poucos, mesmo ainda vivendo nas ruas. Com o tempo, descobriu o Centro de Acolhida Arsenal de Esperança, onde poderia trabalhar dentro do próprio serviço.

‘’Me inseri no Arsenal de Esperança e lá arrumei um emprego como faxineiro dentro do próprio Centro de Acolhida. Foi lá que comecei a ganhar meu primeiro salário’’, afirmou.

Lygia Jardim: um recomeço

Em outubro de 2016, Alexandre descobriu o Centro de Acolhida Lygia Jardim, e viu uma oportunidade ainda melhor: poderia conseguir um emprego e cuidar de sua saúde psicológica.

‘’Assim que entrei no Lygia Jardim, fiz consultas com a psicóloga, o que me fez mais forte e mais confiante, pois dei uma boa melhorada’’, disse emocionado.
No serviço, Alexandre se inscreveu no Curso de Capacitação para Inserção no Mercado de Trabalho por meio do Trabalho Novo e conseguiu seu primeiro emprego na Grande São Paulo.

‘’Hoje eu trabalho na Guima (Conseco Construção Serviços e Comércio), como auxiliar de limpeza. Há três meses eu me encontrei e me sinto muito mais preparado e sem medo de enfrentar a vida’’, disse.

Vida nova

Alexandre, hoje em dia, é um homem muito mais preparado para enfrentar as dificuldades da vida, além de estar pronto para conquistar o que deseja. Sua esperança e força de vontade são exemplos de que os obstáculos podem ser pequenos diante de tamanha determinação.

‘’Eu sei que tem muitas pessoas que desistem, mas eu vou seguir firme. Se fosse só eu, sozinho, não conseguiria. O Centro de Acolhida Lygia Jardim me ajudou a vencer, pois eu não tinha chance nenhuma sem ninguém’’, afirmou.

Além de todos os bons acontecimentos em sua vida, Alexandre conta que se apaixonou. ‘’Conheci uma grega, que estava nas ruas. Hoje, estamos juntos e, futuramente, desejamos alugar uma casa e ganhar autonomia’’.

‘’Numa cidade como essa, tão complexa, esses projetos sociais que nos ajudam nunca devem parar. Apesar de aproveitadores no mundo cruel de hoje, sei que tem pessoas que precisam de ajuda e nunca desperdiçam oportunidades. Aqui é para quem precisa de uma mão, e foi isso que eu senti. Não existe isso em nenhum lugar no Brasil’’, finalizou.

Serviço


O Centro de Acolhida Lygia Jardim tem 40 anos de funcionamento e, desde então, é responsável por acolher pessoas em vulnerabilidade social.

O serviço funciona 16h por dia e tem a capacidade para atender 100 pessoas, sendo 40 mulheres e 60 homens. Além das refeições diárias como almoço, café da tarde e jantar, o Centro de Acolhida Lygia Jardim proporciona cursos de capacitação como: cabeleireiro, barbeiro, confeiteiro, auxiliar de pedreiro, eletricista, cuidador e informática.