Por Marcos Gabriel
Foto: Wagner Origines/SMADS

O espaço para cães do Centro Temporário de Acolhimento do Brás ganhou os primeiros moradores. Julia e Ariel, dois cães sem raça definida e com muita energia, exalam alegria e carinho para todos do serviço, mas principalmente para Ulisses da Silva, 46 anos, dono de ambos.

Há dois anos, depois de enfrentar problemas familiares e o uso exagerado de álcool, Ulisses preferiu sair de casa, onde vivia com a ex-mulher e dois filhos. ‘’Eu trabalhava como agente de saúde, mas quando comecei a passar por problemas psicológicos, me demiti e sai de casa, pois estava descontando todos os meus problemas em quem não merecia’’, contou.

Com o tempo, ele começou a viver embaixo do Viaduto Jaceguai, no bairro Bela Vista. Sem muitas condições ou alternativas, percebeu que a adaptação seria necessária. ‘’Eu passava muitas dificuldades com comida, dinheiro e estabilidade’’, disse.

Encontro

Logo no início da experiência na rua, um simpático vira-lata de cor dourada chegou à vida de Ulisses. Ariel era um filhote quando passou a fazer companhia ao rapaz.
‘’O dono do Ariel, que também vivia no Viaduto Jaceguai, decidiu ir para outro lugar, onde não aceitavam animais. Rapidamente, vi a oportunidade de ter um amigo ao lado e acabei aceitando a proposta de ficar com ele’’, detalhou.

Mesmo já vivendo com Ariel há dois meses, mais um cãozinho cheio de amor chegou à história de Ulisses, para colorir ainda mais os dias difíceis de vulnerabilidade social.

‘’Certo dia, acordei para usar o banheiro, era muito cedo e o sol ainda nem raiava. Do outro lado da rua, tinha um cachorro branco, ao lado de um carro. Me aproximei e descobri que aquela cachorrinha tinha sido abandonada, mesmo que de forma disfarçada’’, afirmou.
Admirador de animais, Ulisses adotou Julia, uma sheepdog de cerca de quatro anos. ‘’Quando adotei, percebi que eu deveria cuidar dos dois. Mesmo sem condições para vacinas, remédios e rações, dava um jeito de dar banho".

A vida no CTA

Com o tempo, as dificuldades foram se agravando, segundo ele. ‘’Eu estava sem condições de dar uma vida digna para os dois cães e isso só complicou porque a Julia estava brigando com os outros animais, além de estar no cio’’.

A equipe de Assistência Social, comovida pela história de companheirismo e fidelidade de Ulisses e seus dois cachorros, decidiu encaminhá-lo para o acolhimento.

‘’Me apresentaram o CTA Brás, que tem espaço para cachorros, já que viram que eu estava com os meus dois. Eu nunca tinha passado por nenhum serviço de acolhimento antes, então vi uma oportunidade diferente’’, explicou.

O Centro Temporário de Acolhimento Brás (CTA) possui espaço construído especialmente para receber pessoas em situação de rua com animais. No total, são 11 baias, em diferentes tamanhos. O atendimento é realizado por voluntários indicados pelas organizações sociais parceiras e de acordo com o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ).

Com muita dedicação e carinho, Ulisses, Julia e Ariel vivem juntos uma história diferente, regada à felicidade e esperança. Os tristes contos de abandono e tristeza já não existem mais agora.

A fidelidade e amor pelos seus cães, estampados no rosto do convivente, é explícita e recíproca, principalmente quando Julia e Ariel realizam os mais sinceros "ataques" de carinho e também de agradecimento ao dono.