Começar de novo

Centros de acolhida oferecem acolhimento para que mulheres vítimas de violência possam reestruturar suas vidas

Foto: Wagner Origines/SMADS
Por Maria Luiza Castelo Branco

A história de vida de Suzana* é semelhante à de centenas de mulheres vítimas de violência que chegam aos centros de acolhida da Prefeitura de São Paulo.

Entretanto, naquele dia, Suzana resolveu que não se calaria mais diante da violência sofrida todos os dias pelo antigo companheiro. Pediu ao filho de 15 anos que fotografasse os hematomas formados pela sequência de socos que levara do marido na noite anterior. As fotos foram postadas no Facebook e logo chamaram a atenção das assistentes sociais da Prefeitura.

As profissionais, em visita à casa de Suzana, constataram situação de abandono e maus tratos. Portadora de esclerose múltipla, doença que a obriga usar cadeira de rodas, relatou que passava por situações humilhantes, violência física e psicológica, além de ser mantida em cárcere privado.

Ao conversar com as assistentes sociais da região, percebeu que poderia mudar de vida ao ser encaminhada ao Centro de Acolhida para Mulheres Vítimas de Violência.

Primeiramente foi orientada a fazer um Boletim de Ocorrência, depois mudou-se para a casa da mãe. Mas, com medo de represálias por parte do companheiro, aceitou ir para o centro. Seu maior propósito era se fortalecer para continuar vivendo. Com essa força, seis meses após sua chegada, Suzana é capaz de sorrir e menciona que “nasceu de novo”.

O centro de acolhida, parceria entre a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS) e uma organização social, oferece acolhimento necessário para que mulheres e seus filhos fiquem longe de seus algozes e que possa reestruturar suas vidas.

Suzana recebe visitas semanais de um psicólogo, além da equipe multidisciplinar, composta por clínico geral, fisioterapeuta e fonoaudióloga, que acompanham o tratamento da esclerose múltipla. “Tenho fé que voltarei a andar”, confessa Suzana. “Quero viver para curtir minha mãe e, posteriormente, meu filho com quem não falo desde que saí de casa”.

História de luta

Gerente do serviço desde a sua inauguração, em 2012, conta que Suzana* trabalhava como vendedora de Yakult quando manifestou os primeiros sintomas da doença.

Por conta disso, passou a ter direito ao Benefício de Prestação Continuada (BPC) da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), que garante um salário mínimo mensal à pessoa com deficiência física ou mental de qualquer idade e aos idosos acima de 65 anos. Para receber o benefício é necessário que a renda per capita do grupo familiar seja menor que 1/4 do salário-mínimo vigente.

Por meio das redes sociais, Suzana* chegou a receber ajuda de amigos. Ao descobrir a tentativa da mulher, o agressor destruiu oito celulares para impedir que a ela tivesse contato externo.

Neste cenário de dificuldades, o companheiro de Suzana* confiscou seu cartão, impedindo-a de retirar seu benefício. “Ela não tinha sequer acesso ao próprio dinheiro”, relata a gerente. “Chegou aqui psicologicamente abalada e com sérios problemas de nutrição”. Após denúncia, um juiz designado para o caso determinou que o agressor devolvesse o cartão; diante de sua recusa, o cartão foi bloqueado e, finalmente, Suzana* passou a receber seu benefício.

Atualmente esse modalidade de serviço conta com cinco casas distribuídas pela cidade. A casa que mora Suzana* abriga 13 pessoas, sendo cinco adultos e oito crianças. Dentre as atividades do local estão oficinas, palestras e passeios.

“Muitas delas chegam aqui só com a roupa do corpo, sem documentos e pertences pessoais. Nossa missão é reestruturar a autoestima e confiança nas mulheres e seus filhos”, finaliza a gerente, militante pelos direitos da mulher há mais de 20 anos.

*nome fictício para preservar a privacidade e segurança da convivente