Exposição relata vida de beneficiários do programa De Braços Abertos

Foto: Wagner Origenes

Por Vinicius Dominichelli

Até o dia 13 de abril o Centro Cultural São Paulo vai receber a exposição “Defender a Vida e Garantir Direitos”. São 16 fotos e relatos de beneficiários do programa De Braços Abertos, iniciativa da prefeitura de São Paulo que tem como principal objetivo a redução de danos causados pelo uso de drogas.

A cerimônia de lançamento foi realizada na última terça-feira no espaço e contou com a presença dos secretários municipais Luciana Temer (Assistência e Desenvolvimento Social), Eduardo Suplicy (Direitos Humanos e Cidadania), Alexandre Padilha (Saúde), além de Benedito Mariano, coordenador do De Braços Abertos.

O programa completou dois anos em janeiro e ajudou 88% dos beneficiários a reduzir drasticamente o uso de drogas. A exposição, inclusive, é uma das atividades desenvolvidas para comemorar a marca.

Um dos casos de sucesso retratado é do cabeleireiro Elton Aparecido da Silva. O beneficiário, hoje com 48 anos, já trabalhou com os apresentadores de TV famosos, mas precisou enfrentar uma crise de depressão por conta do falecimento de seu namorado há dez anos. “Mas passou. Agora estou tentando e conseguindo começar novamente. O De Braços Abertos é para quem realmente quer se recuperar. Até o final do ano eu vou estar com o meu salão de cabeleireiro”, afirma.

Segundo Silva, ele já recebeu convite para trabalhar na área na Califórnia, nos Estados Unidos. “Estou tirando minha documentação. No ano passado passei o Réveillon na Cracolândia, mas se Deus quiser o próximo vou passar nos Estados Unidos”, destaca.

O De Braços Abertos é baseado no conceito de redução de danos, fazendo com que o dependente químico, com mais dignidade e seus direitos respeitados, deixe gradativamente o consumo de crack e outras drogas. Os beneficiários trabalham em serviços de varrição e zeladoria, recebendo R$ 15 por dia, além de alimentação completa e hospedagem. Atualmente, o programa conta com 467 beneficiários ativos, sendo 36% de mulheres e 64% de homens.

“Vim para o De Braços Abertos e mudei até o meu jeito de falar. Não me tratam como usuária de crack, mas sim como ser humano. Não tem diferença se as pessoas são verde ou azul, todos aqui são iguais”, afirma Verônica Aquino da Silva, 42 anos, que conta seu relato na exposição ao lado do seu marido e também beneficiário Felipe Aparecido Santana da Lima, 32.

Números - Antes do De Braços Abertos, que oferece moradia em hotéis, oportunidade em frentes de trabalho e renda, além de alimentação e capacitação, cerca de 16% dos beneficiários afirmava consumir de 81 a 100 pedras por semana, índice que agora é de apenas 2%. As pessoas que diziam consumir de 1 a 10 pedras por semana representavam 22% antes do programa. Agora, eles são quase a metade (47%) dos beneficiários. A pesquisa ainda aponta que, antes da ação, 65% dos beneficiários diziam passar o dia todo sob o efeito do crack, e 32% na metade do dia, pelo menos. Dois anos depois, apenas 5% afirmam ficar sob efeito da droga durante todo o dia. Mais de 55% dizem ficar sob o efeito do crack por pouco tempo no dia. Antes, eram apenas 3%.

O levantamento realizado por assistentes sociais que atuam na região da Cracolândia aponta que 84,66% estão em tratamento de saúde, que 84,17% não possuíam sequer documentação antes da ação – e, agora, contam com identificação– e que 72,75% estão trabalhando. Outro dado importante é que 52,52% dos beneficiários recuperaram o contato com a família, condição importante para a reinserção social do dependente químico.